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11 novembro 2006

Na Imprensa
Cartoonista escondido atrás das letras



Rodrigo de Matos senta-se diariamente em frente ao computador, agarra-se ao telefone vezes sem conta, à procura de notícias para a secção de sociedade do Correio da Manhã, onde desde há oito meses é redactor.

A cada novo acontecimento dá voltas à cabeça, imagina uma ilustração que pudesse contar aquilo que terá de colocar por escrito no papel. Mas não diz a ninguém o que lhe vai na mente. São poucos os que sabem do seu gosto pelos riscos e rabiscos, mantido em segredo até Fevereiro, quando venceu o primeiro concurso de BD realizado por uma associação da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo.

Aos 30 anos, Rodrigo esboça um sorriso de orelha a orelha de cada vez que a conversa vai parar aos bonecos. "Desde a adolescência que sonhava ser cartoonista, principalmente porque sempre fui fã da banda desenhada. Os cartoons de que mais gosto actualmente, sobretudo os de temática política, são os que vêm da que chamaria a escola americana", explica enquanto saca da pasta um número recente da revista 'Newsweek', coleccionada religiosamente por causa dos cartoonistas que todas as semanas ali mostram técnica e talento.

Apesar de os desenhos terem ficado para trás graças aos cinco anos de jornalismo, continua a ter como ideal viver apenas dos 'cartoons', até porque há muito por explorar: "Acho que o meu traço tem qualquer coisa de diferente em relação ao que é feito em Portugal. Acredito que mais cedo ou mais tarde irei enveredar por aí a tempo inteiro."

Influenciado por vários autores, em especial por Wiley e Mike Luckovich, presenças assíduas em jornais e revistas de referência norte-americanos, Rodrigo utiliza o humor na hora de preencher a página em branco, hábito antigo que quer preservar como imagem de marca. Já era assim aos 13 anos, quando se iniciou nos desenhos e deu vida a um judeu comerciante, o Samuel, com o qual percebeu que a graça é a melhor maneira de conquistar o público: "Divertia-me muito a fazer as aventuras dessa personagem. Levava aquilo para a escola e toda a gente se matava a rir".

Agora, Rodrigo só pensa numa colaboração regular na área do 'cartoon' político, algo que o obrigue a desenhar com maior frequência, mesmo quando surge um perigo no horizonte: "Às vezes, as situações já são tão caricatas que o cartoonista quase que não tem nada a acrescentar", afirma entre risos, antes de concluir: "Mas é lógico que essa área tem um grande potencial".

- Correio da Manhã (Domingo Magazine), 27 de Março de 2005